“Não importa o que fizeram com você.
O que importa é o que você faz com o que fizeram com você.”
A frase, dita pelo filósofo francês Jean-Paul Sartre, é perfeita para começar qualquer que seja o dia da sua vida. Afinal, sempre é tempo de mudanças. E, quando elas chegam acompanhadas de um propósito transformador são sempre bem-vindas. Mas, para que se concretizem é necessário traçar estratégias.
A minha mãe me ensinou desde cedo que escrever meus objetivos era importante. Por isso, desde pequena, eu uso agendas. Tá certo que, no auge dos anos 1980, elas eram mais simples, mas sempre me atraíram. Costumava fazer a minha lista de propósitos na última página. Aí, no final do ano, eu conferia o que tinha dado certo. Quem se identifica?
Anos se passaram e esse ritual permaneceu. Muitas vezes, deixei de acompanhar esses objetivos. Falhei em revisitá-los e também em avaliar o que eu estava fazendo por eles. Isso aconteceu todas as vezes em que eu me deixava conduzir pelo piloto automático ou pela correria insana do dia a dia. Com o tempo, percebi o óbvio: ter metas, sonhos, planos e não cuidar para que isso aconteça é a mesma coisa que nada. Desde então, tenho tomado cuidado para dar atenção aos meus propósitos.
Essa atenção se tornou ainda mais intensa depois do turbilhão de emoções provocado pelo período da pandemia. Toda a angústia e ansiedade despertadas pelas incertezas do que estava por vir deixaram cicatrizes profundas e provocaram mudanças também dentro de nós. Desconheço quem não repensou hábitos e valores desde que ficou cara a cara com a finitude da vida.
Vimos muitas pessoas partirem. E isso trouxe também questionamentos sobre quem somos, o que queremos e o que nos afeta. Por isso, eu proponho que você faça 10 reflexões que, certamente, vão te ajudar a pensar o que você pode e deve fazer com tudo aquilo que acontecer com você.
1- A mudança que você busca não existe sem ação
O que você faz do que te fizeram? Olhe para trás, avalie os seus hábitos e a forma como você reage diante das situações com as quais se depara. O que pode ser feito de forma diferente? Vejo muita gente que tem vontade de mudar, mas não move um fio de cabelo para isso acontecer. Toda vez que abrimos os olhos pela manhã estamos diante de um novo capítulo. Precisamos começar a olhar para dentro e entender com clareza o que buscamos na vida e o que é preciso fazer para alcançar isso.
2- As dívidas não vão embora de um dia para o outro. Os hábitos que afetam a nossa vida financeira também não.
Certo dia, durante uma aula de ioga, ao fazer uma postura de equilíbrio muito simples – manter-me de pé e retirar os calcanhares do chão – a professora nos desafiou a fechar os olhos. Foi quase impossível, em um primeiro momento, ficar de pé. Foi preciso abrir os olhos, voltar a olhar no ponto focal para, então, me arriscar novamente.
É incrível como a falta de visão nos tira o equilíbrio. E isso diz muito sobre a nossa vida financeira. Viver no escuro, de olhos fechados, nos desequilibra. Planejar-se financeiramente é definir para onde o seu dinheiro irá, antes mesmo de usá-lo.
Quando enxergamos com clareza a vida que vivemos e pensamos antes de consumir, nós podemos incluir nesse consumo a construção dos nossos projetos e sonhos hoje em vez de deixá-la para amanhã. Não existe autocontrole no futuro. Então, eu te pergunto: o que você pode fazer agora para começar a realizar os seus sonhos? É identificar quais sonhos habitam, verdadeiramente, o seu coração? É organizá-los? É partilhá-los com quem você ama? É organizar as suas finanças e fazer um esforço mensal, semanal, diário para que os seus sonhos se realizem?
3- Não dá para alcançar o que você almeja sem um plano
Sempre é um momento bom para analisar a vida financeira. Faça uma radiografia atual da sua situação e elabore um planejamento real. Estabeleça uma reserva financeira, negocie as dívidas e priorize os pagamentos. E o mais importante: nesse plano, o ponto fundamental é colocar um valor mensal destinado aos projetos que você listou como metas. Reduza em pequenos passos a construção “dos grandes objetivos” para que eles sejam mais facilmente alcançados.
4- Se as tentações são mais fortes que o objetivo, então, esse objetivo não será concretizado
Uma meta verdadeira nos move, nos impulsiona. Ao sentir vontade de jogar tudo paro o alto e não seguir o que você se propôs, leia novamente as suas metas. Pense na sensação que isso te traz, na motivação que preenche seu coração.
5- Ficar sem reservas não dá
Vivemos um grande “reset”. A revolução não é mais tecnológica. Ela é mental e quanto antes entendermos isso, mais leve será. A pandemia deixou muita gente angustiada. Reservas zeradas e inexistentes. Alguns ganharam a batalha de sobreviver em um período que atingiu cruelmente muitos segmentos. Mas, mesmo esses não querem passar por isso de novo. Com a pandemia, aprendemos que pensar em como usamos o nosso dinheiro é crucial para dormirmos em paz.
6- Cursos online: acumule menos, se dedique de verdade
Vi muitos colegas, amigos e clientes se entupindo de cursos online nos últimos anos. Gosto muito dessa possibilidade que o online me traz e uma das metas que realizei nesse período foi colocar no mundo os meus cursos online. Mas, a minha recomendação é que você invista nos cursos que dá conta de fazer e aos quais pretende se dedicar. Vi muita gente que comprou cursos que acabaram estacionados na garagem das bibliotecas virtuais.
7- Metas e obstáculos: entenda essa relação
O que você quer de verdade para a sua vida? Muitas vezes, colocamos metas que não são alcançáveis dentro do prazo que estabelecemos ou não nos comprometemos como deveríamos. Quando colocamos algo muito distante em um tempo muito curto – um ano é um tempo pequeno, dependendo da meta – deixamos de ser realistas.
Existem as metas de curto, médio e longo prazo. Eu me sinto em paz ao tocar piano e essa era uma meta da minha vida. Mas, se eu estipulasse que deveria me tornar uma pianista em oito meses, teria me frustrado. Meta precisa ser real e dividida em pequenas partes.
Além disso, saiba que todo objetivo traz consigo um obstáculo. Precisamos conhecê-lo e criar estratégia para superá-lo. Ao driblar a dificuldade, a gente se supera e se sente motivado. Isso se chama Ciclo da Satisfação.
8- Quando você abre mão de ser feliz, você está morrendo na própria vida
O que te faz feliz? A felicidade, certamente, também está ligada à dedicação a um trabalho prazeroso, mas vai muito além. Significa ter qualidade de tempo para você e para quem ama. Abrir mão disso para viver uma vida de muito trabalho com o objetivo de sustentar um “custo de vida” vale a pena pra você? A questão aqui não é trabalhar menos, mas ter mais consciência do seu tempo.
9- O sofrimento é fruto do apego
Qual é o objeto do seu apego? Às vezes, para seguir em frente, é necessário dar alguns passos para trás e se desfazer de algumas coisas. Esse é um processo doloroso quando existe apego. O que te traz essa sensação? Luxo, poder, bens, status? Você acha que vale a pena viver em sofrimento para manter o que exige de você tanto sacrifício?
10- Trabalhar para viver ou viver para trabalhar?
Quem decide é você. Dá para buscar equilíbrio entre vida e trabalho, mas é preciso ter clareza, ou seja, saber o que você quer. Outro ponto fundamental é a ação. O que você precisa fazer agora para atingir o seu objetivo amanhã? Quando eu decidi que queria ter mais tempo com a minha família, por exemplo, percebi que era necessário diminuir o número de atendimentos de consultorias individuais. Mesmo que isso afetasse o meu lado financeiro, traria o que eu buscava. A vida é feita de escolhas.
Escolhas. É sobre isso. Escolha dar um novo significado à sua vida. Identifique os seus sonhos, trace objetivos, faça planos realistas e se mova na direção do que te motiva. A melhor hora é sempre agora.
a autora
Mãe, esposa, profissional de finanças e empreendedora. Dedico minha vida à consultorias financeiras pessoais, assessoria de investimentos e organização de rotina.