Rituais são importantes pra mim e eu costumo levar a sério. Mas confesso: os que permanecem ao longo dos anos são aqueles mais simples. Desde que a minha filha nasceu, a nossa família tem um momento de agradecimentos e orações à noite. Nunca falha. Ela começa a fazer os agradecimentos. Depois, é a minha vez e a do meu marido. Falamos desde coisas simples às mais profundas. Valem risadas e há espaço de sobra para a emoção. Sinto que isso nos resgata nos dias mais difíceis e nos impulsiona nos mais leves.
No meu dia a dia, escuto muitas histórias e acolho muitas pessoas. Quando o assunto são as finanças a partir de uma perspectiva que contempla uma visão sobre o ser humano, suas escolhas, suas colheitas, podemos ver o quão de fato estamos preenchidos a partir daquilo que vamos vivendo.
Em uma sociedade de consumo, é fácil ficarmos assoberbados com tantas demandas e necessidades. A falta de conexão com as nossas realizações e conquistas nos cega e corremos o risco de buscar preencher os vazios do nosso ser com o “ter”. Quer ver? Quantas vezes você já não se deparou com estes tipos de histórias:
Motivos para buscarmos mais compromissos, aquisições e trabalho não faltarão. E a sensação de estarmos sempre correndo e matando um leão a cada dia toma conta das nossas vidas e da nossa conta bancária.
Eu não quero dizer que não devemos buscar mais, mas o meu convite é – e sempre será – para olharmos sempre para o caminho percorrido. Voltarei aos exemplos anteriores para facilitar a compreensão:
A família está crescendo. O que podemos fazer? Agradecer pelo dom da vida de cada um e por termos um lar onde podemos construir memórias. Será que um quarto a mais não exigirá que os pais estejam mais ausentes para assumir o compromisso financeiro com a aquisição de um novo imóvel? Assim, a casa poderá ficar vazia.
Um filho completa seis anos. Que tal agradecermos pela sua saúde e inteligência e por iniciar a alfabetização, o que o abrirá para o mundo através da leitura. Encher a rotina da criança de compromissos vai reduzir o tempo que ela terá para estabelecer vínculos tão importantes com a família.
Uma promoção está prestes a se concretizar. Eu posso agradecer por todo esforço que consegui empregar nessa jornada e peço coragem e resiliência a fim de me preparar para a certificação necessária. Será que sempre é necessário pagar por um curso para o aprimoramento ou a tranquilidade de uma carga de trabalho adequada pode gerar foco suficiente para um autoaprendizado?
Dois anos de muita tensão por motivo de uma pandemia e eu agradeço muito pela saúde de todos e por podermos voltar a circular livremente com saúde. O que buscamos em uma viagem não seria possível viver em doses diárias de respiro de maneira gratuita por meio de um final de tarde com a família ao ar livre?
Sejamos gratos
Agradecer nos preenche. Isso nos lembra do quanto caminhamos até aqui e do quanto temos e recebemos todos os dias. O espaço de falta é automaticamente preenchido e reduzido por aquilo que já temos. Aí sim estamos prontos para seguir vislumbrando coisas novas.
É a história do copo meio cheio ou meio vazio. Depende da perspectiva. Ele pode estar pela metade e podemos escolher olhar o quanto ele tem ou o quanto lhe falta. Sem a gratidão e a referência ao que já possuímos, corremos o risco de buscar em excesso e transbordar.
“Se você tivesse em sua vida hoje tudo pelo qual agradeceu ontem,
o que você teria?”
O convite é: agradeça pelo que você construiu até aqui e pelo que você recebe gratuitamente da vida todos os dias. Preencha-se de satisfação com isso e vá para o mundo em busca de seus sonhos, experiências e realizações. Nunca se esqueça de nutrir-se com o que já existe agora, neste momento.
Isso é exercitar a gratidão! Palavra que se origina do latim gratia, o mesmo que graça, reconhecimento por tudo o que é recebido. Ela costuma surgir quando estamos alinhados conosco e somos capazes de compreender que a vida está nos trazendo exatamente o que precisamos – seja uma vitória, seja um grande desafio. Essa percepção nos faz sentir vontade de agradecer por tudo, especialmente pelos desafios que a vida impõe. Ela nos deixa em estado de prontidão e o cérebro, em modo criativo.
a autora
Mãe, esposa, profissional de finanças e empreendedora. Dedico minha vida à consultorias financeiras pessoais, assessoria de investimentos e organização de rotina.