12 abr
2024

Doses diárias de gargalhadas

Por Karina Valadares, planejadora financeira*

Certo dia, sentindo a minha mente sobrecarregada, já impactando o meu físico, percebi que, de novo, estava ultrapassando os meus limites. E, dessa vez, a coisa foi estranha. A agenda não estava superlotada e o número de horas de trabalho não estava excessivo.

Só entendi que as coisas não estavam realmente bem quando fiquei de cabeça para baixo em uma prática de ioga e senti uma dor horrível em um dente. Ao mesmo tempo, bateram um desespero e um estranhamento. Afinal, eu havia acabado de fazer um tratamento dentário. A surpresa veio quando o dentista disse:

– O seu nervo está abalado, muito inflamado e isso deve ter sido provocado por tensão.

Além do desespero e do estranhamento, vieram susto, dor e toda a frustração de quem perdeu as rédeas de novo. E dessa vez, por me desconectar do que realmente me motiva no trabalho, já que eu havia me comprometido com demandas que não faziam sentido para mim e que extrapolavam os meus limites. 

Corrigir rota, quebrar contrato, reconectar-me e seguir em frente

O meu curso de especialização em Acolhimento Socioeconômico era formado por uma turma bem diversa e interessante. Certo dia, uma colega querida que já ultrapassa seus 60 anos contou que, em um papo com os amigos, eles decidiram que a métrica de bem-estar do grupo seria a quantidade de gargalhadas espontâneas dadas em um dia.

Achei tão incrível que, após o relato, resolvi observar, de fato, o número de gargalhadas que eu costumava dar ao longo do dia. Descobri que, no meu caso, a quantidade de risadas era inversamente proporcional ao meu grau de estresse e preocupação. Então, decidi que eu também começaria a utilizar essa métrica para medir o meu bem-estar. 

A minha decisão me levou a refletir sobre como as coisas simples da vida são capazes de nos reconectar sem nos engessar. Digo isso porque não demorei a elevar a minha média no cálculo do bem-estar!

O valor das pequenas coisas boas da vida

Depois disso, tirei cinco dias de férias com uma amiga de infância. Temos estilos bem diferentes, mas sempre que estamos juntas é mágico. Foram dias incríveis de risada solta, muita reflexão – sem julgamento ou sofrimento – e aquele monte de coisas bobas que também nos alimentam.

Na viagem, levei comigo o livro “Vida inteira”, publicado pela escritora e jornalista AnaMi. Já havia lido e amado o primeiro, “Enquanto eu respirar”, e superindico. Eu simplesmente me entreguei a essa nova leitura. Acredito que um dos capítulos se conecta totalmente com o que quero falar. O título é “VI.DI.NHA”. 

Esse capítulo do livro traz a seguinte provocação: em meio a tanta reflexão e busca por autoconhecimento, será que nós estamos abandonando as pequenas coisas boas da vida? A autora foi diagnosticada com câncer metastático em 2011, aos 28 anos. Em um dos trechos do livro, ela diz: 

“Agora que você se vê mais inteira por dentro, precisa perceber que a vida não se resume à filosofia que você estuda, aos pacientes com quem conversa, às aulas que dá, aos rituais que frequenta, às coisas que escreve. Tá tudo certo, é maravilhoso. Encontrou sua vida sem sentido! Agora, minha amiga, precisa viver a vidinha, sabe? Dar uns beijos, fazer merda, ter papos furados.”

E eu reforço com a pergunta: o que você gosta de fazer? E ainda acrescento: para tudo precisa de dinheiro? O meu chamado é para olharmos para dentro em vez de buscar só pelo que ainda não temos ou vivemos. É para tentar encontrar na nossa história o que faz diferença. E a partir daí, buscar mais doses de sensações positivas capazes de criar memórias e nos trazer momentos de alegria, pertencimento e acolhimento.

Lendo o livro “Detox financeiro”, de Ashley Feinstein Gerstley, encontrei uma lista com 100 alegrias mundanas. Olha só alguns exemplos dados pela autora: trocar livros com um amigo, ver o sol nascer, praticar caligrafia, andar descalço na grama, exercitar-se em um parque, mandar um bilhete escrito à mão para alguém. Achei muito interessante. Afinal, a lista traz opções pelas quais não é necessário pagar. 

Doses diárias de simplicidade

Que tal fazer uma investigação interior que te possibilite encontrar na simplicidade a genialidade das vivências? Quero convidar você a se exercitar um pouquinho usando o “método” Vi.Di.Nha:

  • Escreva de 5 a 10 linhas sobre, pelo menos, 5 sonhos. Três deles devem ser sonhos individuais. Conte o que quer, o que isso agrega, qual é o valor, o propósito ou a experiência que cada sonho trará.
  • Pense em alegrias mundanas. Para cada sonho listado, encontre alternativas que podem te ajudar a realizá-lo agora, sem que haja necessidade de usar recursos financeiros (ou com poucos recursos). Faça isso e experimente sensações incríveis.

Seja feliz ao longo do caminho. Não há dinheiro nenhum no mundo que compre essa possibilidade. Como diz uma grande amiga: “não dá para agendar felicidade”. Temos que procurar vivê-la em doses diárias de simplicidade. 

E para finalizar, deixo mais uma provocação. Pense em momentos vividos com entusiasmo, alegria genuína e que marcaram a sua história. Depois, reflita se essas situações estavam conectadas com a sua essência. Busque no dia a dia fazer aquilo que te desperta sensações semelhantes. Traga a alegria para os seus dias, celebre, dê gargalhadas. Deixe a métrica do bem-estar nas alturas!

Com carinho,

Ka Valadares

Aquela que vos escreve para se lembrar de que é preciso saber viver

a autora

Karina Valadares

Mãe, esposa, profissional de finanças e empreendedora. Dedico minha vida à consultorias financeiras pessoais, assessoria de investimentos e organização de rotina.

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