15 jun
2023

Conhecer-se é o primeiro passo para organizar a sua vida financeira

Por Karina Valadares, planejadora financeira*

Muita gente nutre sonhos e almeja melhorar a vida financeira. Mas, não dá para mudar nada sem olhar para três bases, que chamo de AAA: autoconhecimento, autorresponsabilidade e autocontrole. Para alcançar uma transformação é preciso fazer uma reflexão profunda sobre cada um desses conceitos. Vamos entender isso na prática? Espero que você consiga pensar como o AAA tem impacto na sua vida.

Autoconhecimento

As nossas finanças são um retrato do nosso estilo de vida, das nossas escolhas e da nossa história. Não tem como conquistar uma vida financeira equilibrada e que seja alinhada ao que desejamos sem nos conhecermos. Mas, conhecer-se verdadeiramente implica olhar para o nosso passado e questionar o nosso presente.

Quando falamos sobre passado é preciso fazer um raio x familiar e se perguntar:

  • A qual cenário você estava exposto desde a sua infância?
  • Como você interpreta o estilo de vida dos seus pais?
  • O que você aprendeu sobre dinheiro?

Não tem jeito. O modo como encaramos o dinheiro tem uma raiz forte no nosso passado. Quando crescemos e ganhamos autonomia financeira temos as nossas motivações para agir como agimos. Essas motivações estão, quase sempre, relacionadas à nossa infância e educação.

Imagine uma pessoa que teve muitas limitações durante a infância. Na vida adulta, pode ser que ela queira consumir de forma excessiva para compensar essa falta. Pensar nas limitações e poder romper com isso pode se tornar uma maneira de manifestar uma certa “força”.

Entender a vida financeira de alguém exige olhar para tudo o que essa pessoa já viveu. O comportamento é um reflexo das nossas memórias e vivências. Reconhecer essa relação é muito importante. É o primeiro passo para compreender como você lida com o dinheiro. Os impulsos, os excessos… tudo isso são sintomas.

Autoconhecimento é quando você olha para as suas marcas, reflete sobre como você interpretou essas marcas e começa a perceber o que isso desencadeia em você hoje. Isso é consciência. E só podemos estar conscientes se nos conhecermos.

Por isso, não existe a possibilidade de “melhorar a vida financeira” sem autoconhecimento. Não tem como. É por essas e outras que sempre falo: cuidar da relação com o dinheiro não é montar uma planilha. É olhar com atenção para tudo o que você viveu e aprendeu e ter clareza sobre como isso te afeta.

O autoconhecimento é um processo contínuo. Seja ou não com a finalidade de refletir sobre dinheiro, essa jornada se estende ao longo da vida. Muitas vezes, pode ser dolorosa. Mas, traz muitos ganhos. Afinal, somente quando olhamos para dentro vamos reconhecendo quem somos de fato.

Descobrir quem você é traz segurança para buscar o que você quer. Não corra o risco de adotar um estilo de vida baseado nos valores dos grupos dos quais você faz parte. Muitas vezes, vai ser sacrificante para você e para as suas finanças manter um estilo de vida que contraria os seus desejos. O hábito de sustentar gastos que não fazem sentido para você pode te levar a um grande endividamento.

Olhe para dentro e reflita:

  • O que verdadeiramente te motiva?
  • Será que você se orgulha da sua relação com o dinheiro?
  • O que você tem feito da sua vida financeira até aqui?
  • Qual é a verdade das suas escolhas?
  • Entenda as suas dores do passado, olhe para elas. Muitas vezes, você vai precisar de ajuda psicológica para desenvolver novas formas de reação para as suas defesas.

Autorresponsabilidade

Depois que nos conhecemos e tomamos consciência das nossas atitudes é normal querermos mudar. Ou seja: você precisa parar, analisar o que não está bom ou os hábitos que te prejudicam e começar a pensar nas mudanças.

Não adianta ter consciência e não se responsabilizar pela transformação que precisa ser feita. Se você diz que gasta muito hoje porque não é mais controlado pelos seus seus pais significa que você já tem consciência, já olhou para dentro. Mas, veja bem, isso não muda nada na sua vida!

O que desperta as mudanças é compreender que tudo o que você viveu despertou atitudes que te prejudicam e, a partir daí, criar estratégias para lidar com isso. O nome disso é autorresponsabilidade.

Quer um exemplo? Eu posso descobrir que o meu colesterol está altíssimo. Essa é uma informação. Mas, se eu não modificar a alimentação e nem fizer atividade física, o que acontece? Nenhuma melhora.

Por isso, não importa o cenário que te levou a ter certos hábitos e atitudes. O importante mesmo é reconhecer o que é prejudicial para você e assumir a responsabilidade de mudar o seu dia a dia, tentando reconhecer tudo que está relacionado a isso.

Uma frase que escuto com frequência é:

“Não sei lidar com finanças porque não tive educação financeira.”

Falar isso é ter consciência de que você precisa desse aprendizado. Mas o que muda se você não tomar uma atitude? Nada. O que pode, realmente, provocar uma mudança é entender que você não teve acesso à educação financeira, mas pode escolher tomar atitudes para mudar isso. 

“Autorresponsabilidade é a principal ferramenta para mudar a nossa vida. A questão não é o que te trouxe até aqui, mas o que você fará daqui pra frente.”

Buscar culpados para justificar as suas falhas é assumir um comportamento infantil. A ficha precisa cair. Somos todos adultos. Ser vítima do seu passado te impede de despertar para mudanças.

Você pode começar a pensar:

  • O que posso fazer para melhorar esse comportamento?
  • Quais atitudes são esperadas de mim agora?
  • O que preciso evitar para não cair nas ciladas dos meus impulsos?

Autocontrole

Você vive pelo princípio do prazer ou da realidade? Gostamos de viver uma vida fantasiosa. Mas, afastar a nuvem da fantasia é importante porque vivemos uma vida real. Quando falamos de autocontrole precisamos entender quais são os atalhos mentais que o cérebro utiliza para as tomadas de decisão. Reconhecer isso é se empoderar.

Pense comigo: tomamos decisões o tempo todo. E como seres humanos, muitas vezes, somos impulsionados pelas emoções, mas buscamos a racionalidade para justificar o nosso comportamento. Essa é uma forma de evitar o desconforto, afastar as dores e buscar o prazer. É assim que passamos a viver em um mundo fantasioso, cheio de ilusões.

Viver dá trabalho. E também dá trabalho ser adulto. Afinal, é preciso encarar a realidade, mas isso pode ser feito com leveza.

“Dificilmente queremos acessar a realidade porque isso exige parar, pensar, ponderar e a, partir daí, tomar a nossa melhor decisão.”

Um exemplo clássico: você entra em uma loja em busca de uma peça. A vendedora traz várias. Todas ficam muito boas. Você tem consciência de que pode gastar até X, mas sente o desejo de gastar XXX e levar tudo. O que você faz? Age no impulso e leva tudo sem pensar no amanhã ou pensa, pondera e, só assim, toma uma decisão?

Falar sobre isso é falar sobre autocontrole. E isso significa criar estratégias e hábitos melhores para minimizar nossos erros sistemáticos. No caso do exemplo acima, não seria melhor informar à vendedora que o seu foco era apenas uma peça? Isso é estratégia.

“Importante saber que o autocontrole só existe no presente.

Não existe autocontrole no futuro.”

Sabe quando você diz: vou fazer isso só hoje, pela última vez. Bom, isso é se enganar. É a mesma história na hora de iniciar uma dieta. “Semana que vem eu começo”. Não funciona. É preciso começar hoje, mesmo que de forma mais leve. Você não tem controle do futuro. Mas, sempre pode decidir o hoje.

Sem olhar para esses erros sistemáticos, acumulamos péssimas decisões financeiras. E aqui não é sobre “não errar”. Aceite que você irá errar mais do que gostaria. Mas, você pode escolher entre ir ao supermercado com fome, sabendo que vai comprar um monte de coisas das quais não precisa, ou tomar decisões para evitar isso.

É preciso olhar para nossas limitações e criar estratégias para lidar com elas. Você pode começar a pensar:

  • Quais são os pequenos passos que posso dar para melhorar o meu autocontrole?
  • O que pode fazer com que eu saia do controle em uma situação (lembra do exemplo do mercado?)

Autoconhecimento, autorresponsabilidade e autocontrole são divisores de águas na vida de qualquer pessoa. Não é fácil desenvolver essas três habilidades. Mas, é transformador. E os pequenos passos podem te levar longe.

a autora

Karina Valadares

Mãe, esposa, profissional de finanças e empreendedora. Dedico minha vida à consultorias financeiras pessoais, assessoria de investimentos e organização de rotina.

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