24 jan
2024

É preciso se esvaziar para encontrar aquilo que faz sentido para você

Viver é, essencialmente, se esvaziar, remover o ruído e se despojar dos excessos. No silêncio, conseguimos ouvir. Ao deixar ir, podemos enxergar com maior precisão o que fica. E, sem dúvidas, o peso nos ombros se torna muito mais leve.
Dia desses, ouvi algo que me levou a uma profunda reflexão. Depois de muito tempo calada, a pessoa com quem eu conversava soltou em tom de desabafo:

  • Eu queria que a pandemia voltasse para eu poder ficar em silêncio, para eu poder ficar em casa.
    Como isso mexeu comigo! Para algumas pessoas, o ruído é tão grande e o peso do dia a dia é tão descomunal que mesmo um momento de tamanha incerteza como a pandemia parece ter sido um alívio. Quantos de nós pudemos nos esvaziar de tal forma durante o período do isolamento social que foi possível vivenciar uma caminhada mais suave?
    Porém, com a volta do “normal”, logo fomos nos enchendo novamente e cá estamos até mais cheios, sobrecarregados e desnorteados do que antes. Temos uma tendência ligar o piloto automático e, sem consciência disso, acumular cada vez mais coisas, tarefas e responsabilidades.
    Quantas ilusões nos (pre)enchem e o quanto isso nos desconecta da nossa essência
    Em algum momento, vamos nos abastecendo de soluções, de novos processos e de ferramentas que nos prometem resolver o que nos angustia, mas que acabam nos afastando ainda mais de nós mesmos. São só uma distração, um desvio do que realmente precisamos fazer.
    Queremos uma solução externa, rápida e precisa como uma fórmula milagrosa que “sempre” funciona para nos livrar de tudo o que bagunça a nossa cabeça. Isso sem ver que, na verdade, estamos criando mais um disfarce para nos dedicarmos a algo novo e ocupar outro pedaço importante do pouco tempo que resta do dia.
    Isso não é parte de você. Processos generalistas nos afastam da nossa própria essência e, como consequência, até nos faz esquecer dela. Vamos nos dispersando.
    Precisamos nos esvaziar de tudo isso para acessar o que, de fato, traz resultados e entender o que é possível fazer. É como descascar uma cebola. Só dá para chegar ao fundo se retirar todas as camadas. A resposta é muito mais interna do que externa.
    Vamos precisar nos esvaziar de muitas coisas. E isso inclui não só as nossas decisões financeiras para fazer melhores escolhas, mas o contexto como um todo. Reflita sobre isso.
    Os excessos te afastam do que é essencial
    A insistente necessidade de preencher algum vazio interno que – pode ser um afeto não recebido; uma pergunta sem resposta; uma ideia sem ação; uma necessidade de caminhar, mas sem direção – é muito desconfortável. Ela nos faz viver atolados de informação e demandas que, quem sabe, podem nos ajudar a resolver o imbróglio.
    É um excesso que, ao final, nos faz sentir mais superficiais e pouco realizados. Os excessos ultrapassam aquilo que nos completa e nos atocham ainda mais com a falta de propósito e clareza. A nossa energia fica difusa e dividida entre muitos afazeres, avançamos muito pouco em várias direções e, a longo prazo, não sentimos um progresso significativo.
    Para alcançar altos níveis de desenvolvimento, eu preciso saber o que quero, como irei fazer e ter, ao menos, uma noção do caminho a trilhar. Percebe que, em todas essas buscas, o sujeito está em primeira pessoa? Tudo isso passa inicialmente por você.
    “Quanto de você é possível enxergar dentro do tanto que vem carregando?”
    Constantemente, somos apresentados a novas oportunidades. Todas elas criam diferentes possibilidades de futuro e desdobramentos que podem nos levar a uma vida com novas formas e perspectivas. Alcançar a proposta que nos toca e pode ser definitiva não vem de abraçar todas essas oportunidades e experimentar tudo.
    Em meio a tanta informação e ruído, encontrar paz, significado e realização exige muito esforço. Quando chegamos à essência, temos clareza e propósito em nossas vidas. É preciso ter tempo e leveza para, de fato, aproveitarmos o tempo.
    A falta de consciência e de conexão com os nossos gastos nos tira tempo de vida
    A nossa vida financeira não corresponde apenas àquele momento em que você se senta em frente a uma calculadora e bate receitas com despesas. Estamos falando de vida e de algo que permeia muitos passos da sua trajetória. Precisa ser algo que conversa diretamente com você.
    Falar de dinheiro é importante porque a gente não sabe usá-lo. Ninguém ensina. Não vem com manual de instrução. O problema é que, muitas vezes, tentamos preencher a nossa vida com experiências e compras que, no fundo, não fazem o menor sentido – viram dívidas, que viram problemas, que viram discussões – e que “pesam” no nosso tempo de vida.
    Pensar no que você realmente precisa e aprender a agir de forma mais consciente é necessário. É preciso se esvaziar para fazer sentido. Não é acumulando coisas que você se tornará e se sentirá melhor. Aliás, você não precisa provar o “seu melhor” para ninguém. Porque sucesso pode até ser um conceito relativo, mas acho que podemos concordar que sucesso é ter tempo e momentos conectados com pessoas que importam, além de saúde.
    Dinheiro é uma ferramenta que pode ser utilizada para nos ajudar a viver melhor e que não deve ser usada para “tapar” nossos vazios. É preciso usar o dinheiro com o coração. Você pode até pensar: “isso me levaria ao abismo”. Calma, eu te explico o que eu quero dizer.
    Pode parecer óbvio, mas, quando gastamos tempo e dinheiro nas coisas que são mais importantes para nós, nos sentimos realizados e temos mais alegria. Isso faz todo sentido e parece muito simples. Mas, ao longo da vida, costumamos caminhar no modo automático e acumulamos despesas que exigem mais produção de dinheiro e nos roubam o tempo livre.
    E como eu quero que você tenha a oportunidade de fazer diferente, lá vai uma atividade para que você possa construir essa realidade.

Jogo de Valores

Reflita sobre os seus valores de vida. Do que você não abre mão? Acesse este link e participe de um jogo que vai te ajudar a reconhecer esses valores para que você tome decisões melhores.
Descobriu quais são os cinco valores essenciais em sua vida? O próximo passo é revisitar todas as suas despesas. Pegue a sua agenda e liste os seus gastos.

Despesas listadas, chegou a hora de fazer uma análise dos gastos que estão em sintonia com os cinco valores essenciais em sua vida (obtidos a partir do Jogo de Valores). Em uma coluna, coloque o que é essencial para você. Na outra, liste o que não está conectado com os seus valores.

Mantenha os gastos que são essenciais para você e, se for necessário, encontre formas de melhorá-los. Os que não estão em sintonia com os seus valores podem ser eliminados ou reduzidos.

E para próximas decisões, avalie antes se o gasto está alinhado ou não aos seus valores de vida. Esse será o seu termômetro e irá te ajudar a não “acumular” coisas e compromissos sem sentido.

Dê uma chance para o vazio. Ao se esvaziar, você estará mais perto da sua essência e poderá se conectar com o que faz sentido para você. Assim, terá condições de fazer um planejamento financeiro que esteja em sintonia com o que realmente é importante. E se precisar de apoio nessa jornada, conte comigo.

a autora

Karina Valadares

Mãe, esposa, profissional de finanças e empreendedora. Dedico minha vida à consultorias financeiras pessoais, assessoria de investimentos e organização de rotina.

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