Eu, Você e nossos “Nós”

Por Karina Valadares, planejadora financeira*

“Casais não falam sobre dinheiro. Eles discutem por causa de dinheiro”. Desde que escutei essa frase, percebi que ela confirma exatamente o que eu tenho percebido: assuntos complexos são evitados a qualquer preço por acreditarmos que não é possível evoluir conversando, apenas segregar ainda mais.

Não é segredo para ninguém que a “vida a dois” pode nos reservar maravilhas, mas que também traz grandes desafios. A não ser que você ainda não tenha vivido e nem assistido a um relacionamento afetivo. Quando eu me casei, lembro-me de dizer para algumas amigas que estavam prestes a tomar a mesma decisão: “Casamento é maravilhoso na mesma proporção que desafiador”.

O afeto, na maioria das vezes, é o que nos une. Mas ele, por si só, não é capaz de manter as nossas relações. Você pode discordar, mas eu acredito em um “combo”. E no centro, está algo que parece lógico, mas é raro: a intimidade.

Nesse caso, intimidade não é apenas partilhar coisas particulares do dia a dia. É querer conhecer verdadeiramente o outro. Se me abro para o outro, preciso dar conta de conhecer o que o outro também tem a mostrar. E nesse ponto, existe um desafio.

Somos naturalmente egoístas e temos a sensação de que sempre estamos “abrindo mão” de algo para estarmos na relação conjugal. E para melhorar isso, existe apenas uma solução: cartas na mesa. Eu preciso me conhecer. E preciso conhecer o outro verdadeiramente.

Bora exercitar?

EU

Você sabe quais são os seus valores de vida?

Você já visitou a sua própria história? Conhece o conceito de biografia humana? Às vezes, lemos biografias incríveis, mas será que conhecemos a nossa? Sugestão: escreva a sua biografia. Permita-se relembrar fatos, histórias e sentimentos que moldaram você até aqui. Esse pode ser um importante momento de reconexão.

Quais são os seus objetivos e sonhos mais íntimos guardados no coração?

VOCÊ

Você sabe quais são os valores de vida inegociáveis do seu parceiro (a)?

Você conhece, em detalhes, a história de vida familiar do seu parceiro (a)?

Você sabe qual é a interpretação feita pelo seu parceiro (a) a partir do que ele (a) já vivenciou?

Você conhece os objetivos e as aspirações do seu parceiro (a)?

Entender sob que ótica o outro vê a vida e que peso ele dá a cada situação ajuda a aceitar as diferenças e legitimar algumas escolhas. Só quando compartilhamos essas profundezas da nossa alma com o outro é que verdadeiramente criamos intimidade.

O poder da “escutatória”

Feito isso, é preciso de um outro ingrediente: diálogo. Numa conversa que tem como objetivo crescer, criar conexão, temos que estar abertos à escuta. E para isso, precisamos de clareza sobre o nosso objetivo com o diálogo: eu quero convencer o outro sobre a validade do meu ponto de vista ou estou interessado em saber como ele pensa? 

No Planejamento Financeiro, atendo casais quase todos os dias. E percebo que, mesmo vivendo juntos há anos, eles não se entregam a diálogos profundos, não conhecem a percepção real do outro sobre a vida. Muitas vezes, colocam “na conta” do outro as suas próprias frustrações e a falta de sensibilidade em relação a prioridades. E, assim, vão escondendo seus sonhos, desejos e realizações.

A infidelidade financeira protagoniza muitas relações, o que poderia ser evitado se fizessem o exercício acima proposto. A escolha do título deste texto traz um trocadilho, uma equação matemática: Eu + Você = Nós. Mas se não solucionarmos bem a primeira parte da equação, a palavra “nós” deixa de ser um pronome pessoal plural para indicar um substantivo masculino que significa literalmente um emaranhado de “fios” difícil de se desatar.

A minha sugestão como Planejadora Financeira é:

• Busque o autoconhecimento.
• Pratique a comunicação não violenta.
• Use e abuse da escuta.
• Adote a reunião de casal e defina temas para cada reunião. 
• Cuide do EU e cuide do VOCÊ (seu par) para que possam cuidar juntos do NÓS.

E você pode estar se perguntando: qual é o melhor modelo para finanças do casal? Bom, primeiro, é aquele que envolve transparência, empatia e escuta.

Façam o exercício que propus. Depois, definam juntos um determinado valor dentro de um limite saudável para cada um gastar com as suas escolhas individuais. Sobre despesas, investimentos e objetivos do casal, façam juntos um planejamento semanal para organizar e validar as informações.

Conversem sobre dinheiro antes que ele seja motivo de briga. Avalie se a escolha do outro está alinhada aos valores de vida dele. Se não estiver, ajude-o a perceber a divergência, mas sem deslegitimar. Respeito é fundamental. Eu acredito que casal que consegue falar sobre vida e finanças de maneira cuidadosa tem chances de grandes realizações. 

Eu testemunho muitas histórias bonitas que renasceram da oportunidade criada dentro do Planejamento Financeiro, que é um olhar para a vida, valorizando a história, respeitando os sonhos e organizando os resultados das escolhas. Que você tenha um caminho de alegrias, realizações e muita prosperidade em sua vida conjugal!

Com carinho,

Ka Valadares

Texto comemorativo pelos 15 anos de casamento que eu e meu companheiro de vida completamos dia 13 de setembro de 2023!!