Eu vou compartilhar uma história com você que, por muito tempo, eu guardei trancada a sete chaves. Durante um período, eu atendi uma cliente que é poeta e ficava admirando como ela relatava a vida cotidiana por meio de seus versos. No dia a dia, ela vivia poeticamente e aquilo me trazia tanta leveza… confesso que eu ficava inebriada!
Quando chegou o momento de eu me organizar para as férias, eu estava esgotada e, então, pensei: a leitura da viagem serão poesias! Comprei um livro de uma escritora que eu admirava por já ter lido alguns poemas e fui. Mas, gente, eu confesso: não consegui me conectar. A leitura não fluiu, fiquei frustrada e não comentei com ninguém. Essa é a parte da história que ficou guardada por muito tempo. Mas, vida vai, vida vem, fui entendendo o que gosto de ler sem que esse episódio ganhasse relevância.
Certa vez, durante um atendimento em que eu e outra cliente falávamos de sobrecarga, escolhas e essência, ela me disse: “Mas, Ka, a questão é que quando temos pessoas que admiramos, acabamos nos confundindo e buscando coisas parecidas. E nos enchemos de coisas e compromissos que não fazem sentido para nós”. Aí, lembrei da história da poesia e compartilhei com ela. E, para a minha surpresa, morremos de rir porque ela estava tentando ler uma poeta maravilhosa, mas com quem não se sentia conectada. Foi assim que compartilhei, pela primeira vez, a minha frustração em não conseguir ler livros de poesia.
Agora, vai uma provocação: se a sua imagem física tivesse o poder de simbolizar toda a sua vida e escolhas, você se reconheceria nela ao se olhar no espelho? Pode dar uma pausa na leitura para refletir.
E aí? Qual é a sua resposta? Refletir sobre essa pergunta me faz lembrar da seguinte frase: “Minha disputa sempre será comigo mesma. É sobre ser melhor que antes, e não melhor que ninguém”. Perceba que quando você se compara a uma outra versão de si mesmo, o ato de se comparar ganha um outro sentido.
A verdade é que, na vida, há sempre pessoas que admiramos muito, não é mesmo? E por admirarmos, muitas vezes, desejamos ter hábitos parecidos, competências e patrimônio também.
A gente começa essa jornada na infância, desejando gostar das mesmas coisas que aquele amiguinho incrível da escola. Avançamos na adolescência adotando o mesmo estilo dos amigos que admiramos. Na juventude, existe sempre aquela pessoa mais ousada, que deixa tudo, se aventura no mundo e nos inspira. Na vida adulta, há o chefe que consideramos incrível e que desejamos um print do currículo.
E, hoje, nos tornamos melhores amigos de pessoas que acompanhamos pelas redes sociais e que, ao vermos no palco da vida, desejamos estrelar no mesmo lugar, sem mesmo conhecer os bastidores.
Ah, e para as mamães de plantão, temos também o modelo idealizado, no qual, muitas vezes, nos encaixamos para tentar atender a todos os pré-requisitos exigidos da maternidade.
Isso é natural e acontece com todos nós durante as mais variadas fases da vida. E nessa batida, vamos enchendo a nossa vida de necessidades, compromissos, cursos e atividades que nos dão a sensação de estarmos próximos da vida que achamos incrível. Mas, e quando isso nos deixa sobrecarregados e não realizados? É preciso parar, sentir, pensar, reavaliar, desapegar, escolher e seguir.
Escolha o que faz sentido para você
Muitas vezes, usamos a razão para justificar as nossas emoções e a sobrecarga se disfarça em coisas que, aos olhos do outro, são positivas. Não significa necessariamente nos desgastar com bebidas, comida em exagero ou compras inconscientes. Essa sobrecarga pode estar, por exemplo, no excesso de cursos, atividades físicas, compromissos sociais, viagens… E quando isso acontece, demoramos mais para perceber o que não está bem.
Eu já vivi assim, com um cansaço constante e um vazio interno que eu preenchia com regras, compromissos, listas, estudos e leituras. Foi preciso chegar ao limite para reavaliar. Hoje, felizmente, vivo uma rotina equilibrada entre trabalho, autocuidado, família e descanso. Mas sei que, para isso, preciso olhar e sentir tudo que vem de dentro. É preciso silenciar o barulho externo que nos convida, o tempo todo, à distração. Para uma vida com mais sentido, convido você a:
Recentemente, um casal me procurou para um trabalho esporádico. Eles estavam construindo uma casa, o dinheiro acabou e, para terminar a construção, venderam o apartamento. A casa é na região em que a família dela vive e onde ela nasceu. Mas agora ela não quer mais a casa. Quer comprar um apartamento no bairro onde eles moravam e eram muito felizes. Para ela, estava difícil reconhecer a falha no planejamento, até que escutou de uma pessoa próxima: “Você quis viver o que a sua família está vivendo. Mas, apesar de amá-los, isso não faz sentido para você”. Foi difícil, mas ela disse que deveria ter se lembrado da frase clássica de sua mãe: você não é todo mundo!
Em finanças, é muito fácil nos perdermos. A grama do vizinho parece ser sempre mais verde e desconhecemos, ao olhar de longe, se ela é, de fato, bem cuidada ou se é um gramado artificial.
Então, para que você possa avaliar se as suas escolhas estão refletindo os seus sonhos, escondendo os seus medos ou ressoando o seu entorno:
O meu incentivo é para que você conheça os seus valores e busque viver de forma coerente com eles, afinal:
“Quando o trabalho reflete os nossos valores de vida, geramos riqueza. Quando a utilização dos recursos – moeda e tempo – está alinhada aos nossos valores de vida, geramos experiências e realização. Caso contrário, trata-se apenas de dinheiro e consumo.”
a autora
Mãe, esposa, profissional de finanças e empreendedora. Dedico minha vida à consultorias financeiras pessoais, assessoria de investimentos e organização de rotina.