17 out
2023

Qual foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?

Por Karina Valadares, planejadora financeira*

Era 2017, eu tinha acabado de deixar a minha carreira no mundo corporativo e participava de um grupo de estudos às sextas-feiras. Os nossos temas giravam em torno do ser humano e seu comportamento, seus vários papéis. Eis que em um dos encontros, uma colega chega com uma camiseta onde estava escrito: qual foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?

A frase me intrigou. Na verdade, mexeu com todos nós. Ela nos disse que a camiseta havia sido feita intencionalmente para um evento de inovação. O curioso é que a frase não é sobre o que você criou, mas sobre o que você ousou experimentar de diferente. 

Desde então, me pego pensando – principalmente quando o dia a dia se apresenta mais desafiador e cansativo – se tenho buscado novas formas de ver, sentir e fazer. Se as coisas não estão como gostaríamos, mudar a forma de fazer pode ser uma alternativa. Não acha?

No processo de tomada de decisão, segundo estudos de Ciências Comportamentais, temos duas formas de pensar: rápido e devagar. Predominantemente, usamos a primeira opção, que está muito ligada à sobrevivência. Nesse jeito ágil de processar a informação, moram os nossos hábitos, aquilo que fazemos sem esforço. É uma forma de agir sem pensar. 

Já na segunda opção, o processamento mais lento, precisamos nos esforçar e ponderar para, então, decidir. E negamos o tempo todo esse lugar de esforço e desconforto. Por isso, vamos levando a vida e deixando as nossas decisões no piloto automático. Uma forma de economizar energia e evitar fadiga.

A questão é que quando agimos em excesso dessa maneira, perdemos a oportunidade de descobrir novas paixões, apreciar paisagens desconhecidas e experimentar resultados diferentes – quem sabe, melhores?

Eu me encanto observando a minha filha. Ela sempre ousa fazer diferente. A minha mente viciada, apressada muitas vezes, ousa dizer: “Pra que inventar moda? Vamos fazer do jeito que já sabemos que dá certo.” Mas, felizmente, ela tem muita opinião e se arrisca. Isso me ensina, me empurra e me leva a passar do ordinário para o extraordinário da vida.

Desde que fiz a minha transição de carreira e criei a minha própria empresa, tenho experimentado, mesmo sem planejar, muitas coisas novas com recorrência. Isso me trouxe vivacidade. É como se cada novidade renovasse o ar dos meus pulmões. Uma vontade de voar como um balão!

Confesso que, no início da nova fase, senti muito medo, mas decidi seguir assim mesmo. Perdi o controle de quase tudo. E o que era aterrorizante para mim se mostrou curativo ao longo do tempo. Nesse período de sustos, superações e novas descobertas, comecei a fazer algo novo sempre que surgia uma oportunidade.

No passado, o novo vinha acompanhado de medo. Ele sempre despertava em mim uma sensação muito ruim. A cada mudança de escola, de cidade e de trabalho, eu sofria bastante. Eram noites sem dormir, horas de choro, dores de barriga.

Agora, consigo ser mais leve porque tenho buscado experiências novas, como tocar piano aos 40 anos, começar um esporte diferente aos 42, falar sobre minha fé em público aos 43,  e por aí vai… E faço isso movida pela minha própria vontade. Assim, tenho recebido retornos que criam memórias felizes e me estimulam nos momentos em que preciso encarar o “inevitável”.

Por isso, quero muito convidar você a refletir comigo:

Prática 1

  • Qual é a sua relação com o novo? Como se sente? Quais experiências você guarda desses momentos?
  • Essas situações, em sua maioria, foram escolhidas por você ou surgiram a partir de necessidades?
  • Você busca, voluntariamente, fazer algo novo com recorrência? Por quê?

Essa reflexão te ajuda a identificar a sua relação com o novo e se você pode construir uma memória mais positiva dessas situações e que trará novas possibilidades.

Para pensar

Vamos refletir sobre esse assunto a partir da perspectiva de nossas finanças pessoais.

  • Como é que fazer coisas novas pode te ajudar a ter uma relação melhor com o consumo?
  • Como ser mais essencialista buscando novas experiências?

Pessoas mais conectadas com o que é essencial têm mais plenitude. Quando estamos mais atentos a nós, identificamos o que precisamos e vinculamos as nossas realizações a isso. Assim, o vazio tende a ser menor e corremos menos risco de buscar supri-lo com o “ter”.

Prática 2:

Olhe para os seus gastos. Identifique as experiências que eles trazem para você e que te motivam a mantê-los no seu dia a dia.

Agora, pense: o que você pode fazer diferente e que trará a mesma sensação que você obtém a partir do que faz hoje?

Experimente fazer algo novo e se surpreenda! Que tal cuidar – ou cuidar mais – das suas finanças com clareza das entradas e saídas de recursos para que tenha autonomia para escolher muitas coisas novas ao longo da sua vida?

Com carinho, Ka Valadares

Aquela que morre de medo do novo, mas se desafia a experimentar sempre!

a autora

Karina Valadares

Mãe, esposa, profissional de finanças e empreendedora. Dedico minha vida à consultorias financeiras pessoais, assessoria de investimentos e organização de rotina.

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