24 abr
2023

Que sonhos você tem deixado de lado?

Por Karina Valadares, planejadora financeira*

Para começar a falar sobre sonhos – e frustrações – preciso voltar ao mês de julho de 2021. Havia uma atmosfera de magia no ar. Afinal, estava ali tudo o que mais amo: férias, mar, sol, natureza, família, leitura aleatória. Voltei do período de descanso revigorada.

A primeira semana de retorno ao trabalho foi incrível. Eu estava cheia de gás e nenhuma dúvida de que não tenho qualquer dificuldade em me ocupar das coisas de que gosto. E era por esse caminho que eu queria seguir: construir uma vida com respiros e com muito, muito espaço para o que gosto de fazer.

Foi com essa certeza na cabeça que eu me lembrei de já ter ouvido pessoas próximas batendo no peito com orgulho ao dizer: “eu não consigo ficar sem trabalhar”. Gente, eu consigo! E não tem nada a ver com gostar ou não do que faço. 

Eu tenho o privilégio de amar o meu trabalho, mas é apenas uma das várias coisas que eu amo. E, com esse pensamento, eu me propus moldar o meu negócio para conseguir ainda mais autonomia e, assim, utilizar conscientemente o meu tempo para fazer o que amo.

O que você ama?

Naquele início do segundo semestre de 2021, eu parei para refletir sobre as minhas motivações, sobre o que realmente eu amava. Você já se fez esta pergunta: quais são os seus maiores desejos e sonhos?

Os meus sonhos naquela época eram aprender a moldar cerâmica, dançar e fazer um intercâmbio em uma pacata cidade do interior da Europa. Sabia que a realização de alguns desejos dependia muito da minha dedicação e de outros, nem tanto. Mas, eu iria trabalhar para favorecer qualquer ajudinha do universo.

Situações não podem ser controladas

Depois de uma semana inspiradora de trabalho, eu resolvi cozinhar e fazer um bolo especial para levar para alguns amigos e… POW! Recebo uma notícia que fez com que tudo o que eu havia planejado fosse por água abaixo. O que eu fiz? Entrei na onda e chorei.

Ah, a notícia. Você quer saber qual foi, né? Então, a tão sonhada normalidade pós-isolamento social não retornaria – pelo menos, naquele momento. A minha filha não voltaria mais para a escola em esquema híbrido. Com isso, seria impossível retomar a rotina e começar a realizar os meus “sonhos”. O plano inspirador falhou antes mesmo de começar a ser executado e tudo parecia desmoronar.

E eu? Chorei! Chorei porque ainda tenho dificuldade para lidar com a falta de controle sobre as situações. Mas, sei que as situações dependem de muitas variáveis e não apenas de mim. E sei também que somos capazes de controlar as nossas reações diante do que acontece.  Por isso, engoli o choro e aceitei que nem tudo seria do jeitinho que eu planejei. 

Levanta, sacode a poeira e entra no clima

Estamos falando sobre sonhos e, sim, os sonhos encontram obstáculos. E, na maioria das vezes, o nosso planejamento não vai conseguir ser executado perfeitamente no mundo real. Mas, podemos mudar a rota e trabalhar para que tudo se encaixe novamente. 

Quando falamos sobre planejamento financeiro, o que podemos aprender com isso? 

1 – Em finanças, nunca teremos o controle de tudo. E não adianta chorar, como eu fiz quando vi que não teria a minha rotina de volta. Então, o que podemos fazer? Criar uma reserva de segurança.


2 – Somos movidos pelos nossos sonhos. O que precisamos fazer para torná-los realidade? Listá-los, como fiz acima. É essencial ter clareza sobre o que queremos para definir que caminho precisamos trilhar. E fará parte desse processo construir uma reserva de projetos e sonhos.


3 – Teremos muitas distrações ao longo do caminho. E isso pode atrasar a nossa chegada ao destino. Por esse motivo, precisamos criar lembretes que nos ajudem a voltar sempre para a rota.

4 – O que eu amo, além do trabalho? Como estou cuidando disso? Amamos várias coisas e precisamos cuidar delas já. Como? Construindo a nossa reserva de longevidade. É com ela que iremos contar ao longo da vida.

Como chegar lá


Mais de 64% dos brasileiros não têm segurança sobre o seu futuro financeiro. E cerca de 78% não dariam conta de uma despesa inesperada grande. Os dados são da pesquisa Índice de Saúde Financeira do Brasileiro, feita pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). E, cá entre nós, ninguém quer fazer parte dessa estatística, não é verdade? Por isso, é tão importante criar uma reserva de segurança.

Para que serve uma reserva? Para ser utilizada diante de algum imprevisto. E ela pode ser útil também quando você vislumbrar uma oportunidade de investimento, por exemplo. Por isso, o dinheiro deve estar disponível para ser sacado a qualquer momento. Além da liquidez imediata, a aplicação deve ser feita em produtos financeiros com baixíssimo risco.

Quanto você deve destinar à reserva de segurança? O valor ideal varia entre cinco a seis vezes o valor do seu custo de vida mensal. Por exemplo, se você precisa de R$5 mil por mês para viver, o ideal é que mantenha nessa reserva algo em torno de R$30 mil.

Os sonhos, infelizmente, não se materializam com varinhas de condão. E a maior parte dos brasileiros vive com o orçamento apertado: 69,4% gastam mais do que ganham ou terminam o mês totalmente zerados, de acordo com a Febraban. Mas tem saída! 

Reserva de projetos e sonhos

Erguer sonhos é ter paciência para colocar tijolo sobre tijolo. Mas, antes disso, é preciso saber o que você quer, para quando quer e de quanto precisa. É aí que entra o planejamento da reserva de projetos e sonhos.

Estabeleça uma meta mensal até a data da realização do seu objetivo.
Você pode ser sistemático e manter a clareza das metas para evitar a inércia. Se a ideia é fazer um intercâmbio daqui a 5 anos e isso vai custar R$40 mil, você terá que guardar R$666,67 por mês durante 60 meses.


Por último, mas, nunca menos importante, temos que olhar lá na frente. É importantíssimo pensar agora em como viveremos no futuro para que não seja tão pesado lidar com problemas financeiros na velhice. Reflita sobre o seguinte:

– O estilo de vida que você quer manter ao longo do tempo custa quanto?

– A maneira como você vive hoje é ideal para o futuro? Se sim, verifique o quanto você já fez para garantir que, ao envelhecer, conseguirá bancar o mesmo padrão de vida que tem atualmente.

Para ajudar a pensar na reserva de longevidade, os autores do livro “4 dimensões de uma vida em equilíbrio” sugerem que aos 35 anos, você acumule o equivalente a um ano de salário bruto. Aos 45 anos, três anos. Aos 55 anos, seis anos. E aos 65 anos, que você tenha o acumulado o equivalente a nove anos de salário bruto. Isso, sem contar o seu patrimônio.

Estamos falando de projetos a longo, médio e curto prazo para a construção de uma vida plena e de um relacionamento saudável com o dinheiro. Por isso, fica a dica: escolha um estilo de vida hoje que também seja sustentável ao longo do tempo.

a autora

Karina Valadares

Mãe, esposa, profissional de finanças e empreendedora. Dedico minha vida à consultorias financeiras pessoais, assessoria de investimentos e organização de rotina.

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